Para avaliar os 5.700 cursos de mestrado e doutorado do país, a
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes)
organiza os programas de pós-graduação em 48 áreas, que se distribuem em
nove grandes áreas: Ciências Agrárias; Ciências Biológicas; Ciências da
Saúde; Ciências Exatas e da Terra; Ciências Humanas; Ciências Sociais
Aplicadas; Engenharias; Linguística, Letras e Artes; e Multidisciplinar.
Reunidos para a Avaliação Trienal 2013 em Brasília, coordenadores de
três áreas com grande quantidade de cursos: Engenharias, Ciências
Biológicas e Medicinas, explicam a importância da divisão interna das
áreas e sugerem novos arranjos disciplinares para o futuro da atividade
de avaliação da pós-graduação.
 Carlos Sampaio – coordenador da área de Engenharias II (Foto: Guilherme Feijó - CCS/Capes)
Engenharias Para o coordenador da área de
Engenharias II, Carlos Sampaio, a divisão dentro da área de engenharia
foi necessária pelo crescimento do sistema. "Os programas de engenharia
cresceram bastante. Na década de 90 eram cerca de 30 programas e hoje
nós temos mais de 300", explica. A área de Engenharias II é responsável
por avaliar cursos como engenharia de minas, metalúrgica, de materiais,
química e nuclear.
 Estevam de Las Casas – coordenador da área de Engenharias I (Foto: Guilherme Feijó - CCS/Capes)
"Há
coisas muito diferentes em nossa área, engenharia de minas e nuclear
possuem diferenças muito grandes", conta Sampaio. Por isso mesmo, o
coordenador sugere que no futuro sejam feitas mais divisões por
especialidade na área. "Em termos de produção científica, as áreas são
muito parecidas, os critérios de todas as engenharias são muito
parecidos. Mas acho que fundir as áreas deixaria muito grande, 350
programas numa mesma área seria muito difícil para fazer a avaliação. A
questão deveria ser até o contrário, subdividir Engenharias II. Não
agora, mas quando ela crescesse mais, passasse dos 100 programas, aí
poderíamos dividir engenharia química, principal grupo da nossa área, do
restante", conclui.
A opinião de repensar a distribuição de cursos na engenharia é
compartilhada pelo coordenador da área de Engenharias III, Nei Soma. "O
recorte original foi feito quando a pós-graduação brasileira era muito
menor. Hoje em dia seria necessário repensar devido à quantidade de
programas que nós temos no momento. É bem-vinda a ideia de tentar
repensar a distribuição das áreas de engenharia", afirma. A área de
Engenharias III é responsável por avaliar cursos como engenharia
mecânica e de produção.
 Nei Soma – coordenador da área de Engenharias III (Foto: Guilherme Feijó - CCS/Capes) A
tendência de multidisciplinariedade crescente também deve influir na
divisão futura das áreas de engenharia, explica o coordenador da área de
engenharias I, Estevam Barbosa de Las Casas. "A divisão em áreas é
sempre controversa, porque as engenharias estão cada vez mais rompendo
com as caixinhas disciplinares. O importante é não ficar restrito a uma
visão que não ultrapasse as barreiras que no fim das contas nós mesmos
criamos entre as áreas. Desde que exista essa consciência de que você
precisa de uma perspectiva mais multidisciplinar dentro de cada área e
que a divisão não é tão importante, eventualmente o critério pode ser o
tamanho e o número de programas dentro de cada área", ressalta. A área
de Engenharias I é responsável por avaliar cursos como engenharia civil,
meio ambiente, hidráulica e sanitária.
 Antônio Marcos - coordenador da área de Engenharias IV (Foto: Guilherme Feijó - CCS/Capes) O
coordenador da área de Engenharias IV, Antônio Marcos, também acredita
que o caráter interdisciplinar de algumas especialidades da engenharia
deve promover a reflexão sobre uma nova divisão na área. "Pegue o
exemplo da robótica, é uma tema que tradicionalmente é trabalhado pelo
pessoal da elétrica, mas a interface com a engenharia mecânica também é
evidente". O coordenador conta que a área tem discutido a aceitação de
temáticas multidisciplinares além do recorte tradicional da avaliação.
"Então acho que é um bom exercício identificar uma nova composição que
respeite a história das diversas áreas, mas que caminhe ao que o momento
da ciência e tecnologia demanda, muito mais multidisciplinar", conclui.
A área de Engenharias I é responsável por avaliar cursos como
engenharia elétrica e biomédica.
 José Antonio da Rocha Gontijo – coordenador da área de Medicina I (Foto: Felipe Lima - CCS/Capes)
Medicinas As Medicinas foram historicamente
dividida em três áreas, explica o coordenador da área de Medicina II,
João Pereira Leite. "Essa divisão histórica colocou em Medicina I os
grandes programas clínicos, enquanto a Medicina II compreende também
programas com perfil bastante clínico, mas com nichos temáticos. É a
área que eu coordeno e envolve, por exemplo, os programas de
psiquiatria, de neurologia, o conjunto dos programas de pediatria e
saúde da criança e do adolescente, os programas de patologia e o grande
grupo de doenças infecciosas e moléstias tropicais. Já a medicina III
reúne programas com alguma vertente cirúrgica", conta.
Com o desenvolvimento dos critérios de avaliação, tem acontecido uma
aproximação das áreas, afirma o coordenador. "Em Medicina I e II,
utilizamos basicamente os mesmos critérios. Porque o comportamento dos
programas, o nicho das revistas que são veículos que os programas
publicam, são muito parecidos". O problema, segundo Leite seria o
tamanho da área. "Do ponto de vista da filosofia da avaliação, as três
áreas estão muito próximas. Acredito que uma junção poderia trazer ainda
maior uniformidade a área, mas uma área com quase 200 programas poderia
ter problemas de gerenciamento", pondera.
 João Pereira Leite – coordenador da área de Medicina II (Foto: Felipe Lima - CCS/Capes)
O coordenador da área de Medicina I, José Antonio da Rocha Gontijo,
também concorda que o tamanho pode ser um problema para a avaliação
única das medicinas. "Houve uma aproximação entre os critérios de
avaliação e as características da avaliação de cada uma dessas áreas. No
entanto a diversidade e quantidade de programas ainda são muito
grandes", explica.
Por outro lado, Gontijo sugere formas em que essa fusão seria bem
sucedida. "Poderíamos pensar em ter um comitê maior e como na
interdisciplinar, um comitê único, defendendo critérios únicos, pois
ainda existem peculiaridades entre essas áreas que deveriam ser
afinadas, ser levada em consideração. Qualquer junção deve levar em
conta que há especificidades, há produções que são muito características
do ponto de vista de avaliação nas diferentes áreas de concentração",
ressalta.
 Lydia Masako Ferreira – coordenadora da área de Medicina III (Foto: Felipe Lima - CCS/Capes)
O exemplo da área interdisciplinar, que congrega diferentes cursos
sob uma mesma área, também é evocado pela coordenadora da área de
Medicina III, Lydia Masako Ferreira. "Eu penso que é bastante
interessante pensar a junção no seguinte aspecto: nós uniformizaríamos
outros sub-quesitos, outros itens, que podem estar um pouco diferentes,
mas que de verdade, já não é mais diferente. Uma medicina única, talvez
da mesma forma que a interdisciplinar, com blocos separados, porque o
número de programas é muito grande. Seriam cerca de 200 programas, o que
ficaria complicado para apenas um coordenador, dominar e conhecer a
fundo a avaliação de todos", afirma.
Mesmo com o desafio da grandeza da área, para Ferreira, esse é o
momento apropriado para se repensar o arranjo das medicinas. "Hoje, em
2013, é a primeira vez que Medicina I, II e III tem o mesmo fator de
impacto nos extratos A1, A2, B1, B2, B3, B4, B5. Elas são idênticas.
Então agora nós podemos pensar numa avaliação única das medicinas porque
ela está uniformizada", conclui.
 João Santana da Silva - coordenador da área de Ciências Biológicas III (Foto: Edson Morais - CCS/Capes)
Ciências Biológicas A grande área de Ciências
Biológicas experimenta na Avaliação Trienal 2013 um novo arranjo de
disciplinas. As áreas de zoologia, botânica e oceanologia se fundiram
com ecologia para formar a nova área de Biodiversidade. Para o
coordenador da área, Paulo Jorge Santos, o conjunto de informações e de
dados obtidos com essa reestruturação foi bastante positivo. "A nova
área de biodiversidade incorpora um conjunto de programas que atuam na
descrição, uso e conservação de recursos biológicos, fauna e flora, e
tem uma homogeneidade grande apesar de suas atuações em diferentes
aspectos da biodiversidade", explica. O coordenador explica que a área
possui desafios por ser um pouco heterogênea. "Por isso, acabamos por
criar instrumentos que não deixassem nenhum tema da área em descoberto.
Assim, não vejo nesse momento a necessidade de fazer outras subdivisões
ou reorganizações que envolvam a área de biodiversidade. Acredito que os
programas ficaram bem acomodados dentro da reorganização e das métricas
que construirmos para fazer a avaliação", afirma.
 Paulo Jorge Santos - coordenador da área de Biodiversidade (Foto: Edson Morais - CCS/Capes)
O coordenador da área de Ciências Biológicas III, João Santana da
Silva, responsável por cursos especializados em parasitologia,
microbiologia, imunologia, também elogia a nova organização. "Estamos
bem no momento. Os critérios de avaliação entre todas as áreas das
ciências biológicas são muito semelhantes, mas as áreas são diferentes.
Embora elas tenham uma ligação, com os conceitos e métodos parecidos,
também são áreas muito grandes. Pela quantidade enorme de programas, uma
fusão complicaria. Agora com a área biodiversidade separada, temos um
excelente arranjo", enfatiza.
 Augusto Schrank - coordenador da área de Ciências Biológicas I (Foto: Edson Morais - CCS/Capes)
O desenvolvimento de ferramentas de avaliação também deve promover
uma nova divisão de áreas no processo, afirma o coordenador da área de
Ciências Biológicas I, Augusto Schrank, responsável pela avaliação de
cursos como biologia celular e genética. "Essa Avaliação de 2013 é um
divisor de águas. Tivemos um avanço no desenvolvimento do sistema de
avaliação e na equipe técnica da Capes que nos permite avaliar grupos de
programas de maneira online, o que deve mudar a avaliação da
pós-graduação no futuro. Acredito que isso deve provocar uma redução no
número de áreas, mesmo com o crescimento do Sistema Nacional de
Pós-Graduação, porque com o acesso a informação online é possível
aumentar o número de programas avaliados em conjunto e a enorme
quantidade de produção desses programas. Em nossa área nós temos 1.200
orientadores e a produção nesse triênio foi de 11.760 artigos
científicos, uma produção dessa magnitude tem que ser avaliada com muito
critério, e os sistemas de informatização tem possibilitado isso",
afirma.
Pedro Matos |